domingo, abril 05, 2009

English Club - o renascer da fénix? Nã...


Como prometido, aqui vai o post sobre o English, a melhor (e única!) discoteca da terrinha. E porquê agora? Porque na sexta-feira, dia 3, foi tentada uma manobra de reanimação da dita, tipo massagem cardíaca ao som de muita martelada (leia-se house music).
Sendo a única discoteca do Fundão, o English sempre foi o ponto de convergência de toda a gente, novos e menos novos, a partir das 2h da manhã, hora a que o senhores agentes da GNR (agora GNR - Comércio Seguro) fazem a ronda para ajudar a esvaziar os bares mais depressa, num gesto de "solidariedade" para com os donos e/ou empregados dos ditos bares.
Há uns anos atrás, o English Bar (agora English Club) era uma discoteca de referência; vinha gente de tod'a Beira Baixa sacudir o esqueleto à nossa humilde discoteca, também famosa pela feijoada à sexta-feira. Era um local de convívio e muitas vezes os pais acompanhavam os filhos nessas saídas; os pais ficavam no bar do rés-do-chão, os filhos iam pintar a manta para as pistas (sim, tinha 2 pistas!).
Famosas eram as noites da saudosa e extinta FACIF, em que no sábado de encerramento, a discoteca enchia até ficar quase a rebentar pelas costuras e era loucura total! Ainda guardo recordações de uma FACIF em que o concerto do último sábado foi Xutos&Pontapés; não cabia mais uma alminha no English, dizem que os próprios Xutos andavam por ali a encanar cervejas, e o ambiente estava ao rubro! Havia pessoas em cima dos muros que rodeavam a pista nova (conhecida como "banheira" devido aos seus fabulosos mosaicos brancos), pessoas em cima das cadeira e parece-me (não juro) que também havia pessoas em cima de algumas mesas. O facto é que estava tudo animadíssimo e foi de facto uma noite memorável na história do English (Bar, na altura).
Como essa houve tantas outras noites, não era preciso motivo para haver festa no English. A desculpa em casa (estamos a falar do tempo da adolescência) era a festa de anos de amigos, alguns dos quais festejavam o anivesário várias vezes ao ano. Ou o fim das aulas. Ou o início das aulas. Ou o facto de estarmos a meio do 2º período. E as famosas matinés do English, com a sua festa da Porca e do Parafuso, em que entregavam à entrada uma porca às meninas e um parafuso aos meninos. O objectivo era encontrar o parafuso que encaixasse naquela porca, e assim era ver rapazes e raparigas tentarem encaixar os seus parafusos e as suas porcas (hum...). Quando encontrassem o par iam ao bar e recebiam uma bebida grátis ou outro presente qualquer (francamente não me lembro, nunca andava à procura do parafuso... era muito tímida). Também me lembro da festa do Graffiti, em que as paredes estavam forradas de plásticos gigantesco e o pessoal fazia graffitis com tintas que brilhavam no escuro. Isso é que eram tempos!
Depois o pessoal cresceu, acabou o liceu, foi para a universidade, e o English passou a ser o ponto de encontro nas férias de Natal, Carnaval, Páscoa e de Verão. Mesmo que uma pessoa saísse de casa sozinha, sem combinar nada com ninguém, sabia que se fosse ao English ia encontrar lá o pessoal todo. Era dado adquirido que início de férias dava direito a ida ao English no sábado. E era fixe encontrar pessoal com quem já não se estava há meses; nessas noites passava-se mais tempo a conversar e a beber do que a dançar. E as noites continuavam mesmo depois da discoteca fechar: ia tudo em romaria (no verdadeiro sentido da palavra!) até à estátua da Nossa Senhora de Fátima (carinhosamente apelidade de Santa), na Serra da Gardunha. O álcool ajudava à locomoção (ou não!) e viam-se grupos de pessoas pela estrada acima para abancar nas escadas que ladeiam o dito monumento. E a noite terminava de manhã, com o fantástico nascer do sol e o debandar do pessoal para casa ou para o parque de campismo, que fica mesmo ali ao lado.
Com o tempo foi necessário modernizar o velhinho English, que foi remodelado e transformado numa discoteca insípida e branca, nada a ver com o English "old school", escuro e tenebroso, mas sempre tão animado!
A mudança de visual do velhinho English roubou-lhe a alma, e o English começou a estar vazio daquelas pessoas que lá iam para se reverem. Havia outras, mas pessoas estranhas, que eu não conhecia. O pessoal deixou de ir ao English.
Claro que ainda existem os resistentes, o pessoal que insiste em ir quando vêm as férias, sempre na esperança de reencontrar os amigos. Mas nunca reencontram ninguém.
Por isso, quando nesta sexta feira anunciaram um DJ set "Mr. Lemon e Mr. Marrusso" a prometer "let´s rock and electrify", eu fiquei com vontade de ir. Era início de férias da Páscoa, podia ser que, pelo menos uma vez, o English voltasse a ser o que era. Estive quase a desistir mas lá fui arrastada para lá, sempre com a esperança de que não me fosse arrepender. Já lá não ia há uns bons meses, e enquanto entrava e subia as escadas pensava que ia ser uma noite bem fixe. Mas quando entrei na pista, a expectativa deu lugar à desilusão. Embora estivesse uma casa compostinha em termos de quantidade de gente, o som não era bem o que eu estava à espera. Resumindo: defraudou as minhas expectativas. Aguentei a meia hora da praxe, paguei uma cerveja do meu cartão a um amigo, dei mais meia hora para não parecer mal, e fui para casa.
Tinha a ideia de que o English seria como a fénix, podia ter sido queimado mas iria renascer. Agora acho que não, acho que o English perdeu a sua alma, e quando os lugares perdem a alma dificilmente voltam a ser o que eram.

3 comentários:

pisco disse...

Antes fosse só o english a perder a alma... quanto às expectativas... bahh já te disse hoje em dia não vale a pena criá-las com nada nem ninguém. é a crise... Isto bem, bem era ser uma mosca ao menos não se pensa e a expectativa prendia-se entre morrer num mata-moscas ou numa daquelas cenas azuis :D Beijo

Casablanca disse...

Será que foi o English que perdeu a alma ou fisicamente nós é que estamos já desenquadrados da adolescência?

Mas estás de parabéns, porque conseguiste descrever perfeitamente o que significava o English...aliás, todas as terras tiveram um!

Pedro Fiuza disse...

não é o renascer da fénix, é a continuação do fónix!!!