sábado, janeiro 16, 2010

Noutra pele

Apetece-me escrever, mas não consigo organizar ideias. Já comecei três textos mas chego a meio e perco-me. As ideias estão lá, o pior é organizá-las...
Ontem li um texto que um amigo meu escreveu; era um monólogo bastante longo, cheio de sentimentos não muito bons, mas cheio de sentimentos. Era um texto que eu poderia ter escrito. Não me identifiquei com a narradora (felizmente, apesar de tudo, não me posso queixar da minha vida) mas identifiquei-me com o texto. E verifico que me falta fluidez nas palavras. Sei o que quero escrever mas não o consigo fazer.
Tenho lido pouco, talvez por isso não consiga escrever como antes. A leitura facilita a escrita, sempre ouvi dizer.
Talvez se me pusesse noutra pele as palavras saíssem mais facilmente; na pele de um homem, em vez de uma mulher. Dizem que os homens são mais racionais, não se deixam levar tanto pelas emoções; isso poderia ajudar-me a organizar as ideias e talvez conseguisse, finalmente, construir um texto. Mas acho que não consigo pôr-me na pele de um homem, embora tenha alguma curiosidade em saber como eles vêem as coisas; como será ver o mundo sem nos deixarmos levar pelas emoções?
Isto enerva-me um pouco, sempre foi tão fácil para mim escrever. No liceu escrevia textos que deixavam os professores abismados; eram textos cheios de metáforas (como já disse uma vez, isto não é defeito, é feitio) e com muitos segundo sentidos, a interpretação dependia sempre de quem lia. Agora, ou pelo menos durante esta semana, tenho tido alguma dificuldade em conseguir escrever. Se, neste momento, estivesse numa aula de Português no liceu e me pedissem para escrever um texto, acho que iria ter uma avaliação negativa.
Tenho dois livros "na forja" para ir comprar: Pedro Paixão, "Do mal o menos"  e José Luís Peixoto; em relação a este último não sei que livro comprar. "Morreste-me" parece ser um bom livro mas não sei se consigo neste momento ler sobre a morte de um pai, invariavelmente irei colocar-me na pele do escritor (aí está!) e não quero fazê-lo, não agora, o tempo virá... Talvez compre "Cemitério de Pianos", parece-me mais pacífico.
Preciso de ler. Urgentemente. Algo me alimente o espírito, que me ajude a organizar-me por dentro, que me ajude a encontrar de novo o caminho para a escrita. Algo que me ponha noutra pele, numa pele mais organizada, numa pele que consiga escrever de uma forma natural. Algo que me ponha, de novo, na minha pele de "escritora inata".

Por ora, é o melhor que consigo fazer.