domingo, novembro 21, 2010

Sunday, bloody bastard sunday...

Os domingos deprimem-me. Sempre me deprimiram, já desde os primórdios da minha infância. Na altura marcavam o final de um ciclo interminável de dois dias em que não havia escola e em que era ramboiada de manhã à noite. Depois passaram a ser o dia de viagem de regresso a Aveiro, para mais uma semana de aulas numa cidade que eu odiava. Agora não marcam o dia que precede o início das aulas mas muitas vezes ainda é o dia de viagem de regresso mas desta vez a casa, o que é igualmente deprimente, principalmente depois de um fim de semana com os amigos. E continua a deprimir-me, mesmo que não tenha saído no fim de semana. Até no verão, quando estou de férias, é um dia deprimente; numa escala menor, mas ainda assim deprimente.
Lembro-me que, quando estive em Viena, passei lá um domingo e verifiquei que é exactamente igual ao domingo em Portugal. Andei a passear pela cidade e dei comigo a pensar "é tal e qual lá"; não se via viv'alma nas ruas, parece que aos domingos desce um manto de depressão sobre o Mundo.
Nos domingos não me apetece fazer nada, fico melancólica e talvez por não ter muito que fazer, os meus pensamentos viajam por sítios que não deviam e vão buscar coisas que deviam ficar sossegaditas, enterradas algures nas circunvalações cerebrais mais profundas. Talvez seja o poder hipnótico do fogo na lareira ou o calor que dela emana, o facto é que começo a divagar. E não gosto nada de divagar aos domingos, principalmente quando está a chover.
Houve uma altura em que aos domingos chorava sempre. Não me recordo bem porquê, mas sei que saía sozinha para tomar café, os meus amigos ou estavam em casa a ressacar ou tinham saído com os respectivos pares (nunca percebi muito bem porque é que aos domingos saíam sozinhos, podiam escolher outro dia da semana para estarem a sós ou até irem variando de dia da semana) e depois vagueava pelo Fundão, autêntica cidade-fantasma. Só se viam casalinhos a passear pelas ruas, a ver as montras, parecia o dia de S. Valentim. E aquilo enervava-me um bocado. Sentia-me mesmo sozinha.
Agora não, os tempos mudam, a idade também, e mesmo que estejam de ressaca, os amigos acabam por aparecer ao domingo, afinal as bebedeiras já não são tão fortes (o corpo já não aguenta tanto) e o café faz milagres quando estamos de ressaca. De qualquer maneira, os pensamentos continuam a vaguear, talvez porque o ritmo de domingo é um ritmo mais lento e modorrento.
Chego à conclusão que não gosto de estar sem fazer nada, o que me vai trazer muitos dias melancólicos nos próximos tempos. Se calhar é melhor não acender a lareira.