domingo, maio 31, 2009

Noite Hard Rock na Moagem ou "O regresso à adolescência"


Ontem foi a primeira verdadeira noite de verão, esplanada com fartura, desde as 19h até à 1h30m, minis e tremoços. Finalmente!
Não sei se para comemorar o primeiro sábado de "verão", na Moagem decorreu a noite "Hard Rock"; fomos até lá ao fim da noite, para "morder o ambiente". Já chegámos tarde e pelo que percebi, as bandas que lá foram (duas) eram de adolescentes aqui da terrinha que faziam umas covers de grupos hard rock. Não tocavam mal e vê-los ali fez-me recuar uns bons 14 anos e ver-me ali, no meio do mosh, a curtir com os amigos.
Há 14 anos também existiam bandas destas, que até tinham temas originais; havia duas que eram particularmente do nosso gosto, pois delas faziam parte amigos nossos: os "Negative I.Q." e os "Bowser". E ontem, ao ver os miúdos todos cantar em frente ao palco e andarem ao mosh, ao som da música da banda dos amigos, fez-me viajar para bem longe no tempo. Lembrei-me do Rock Fest'em Vale, um festival de rock que decorreu em Valverde, tinha eu uns verdes 17 aninhos. E do concerto dos Bowser no bufete da escola secundária, onde o saldo foi umas quantas mesas e cadeiras partidas. E do concerto dos Primitive Reason no recinto da nossa extinta FACIF.
Andava eu nestas divagações quando a dita banda começa a tocar "Killing in the name", dos Rage Against the Machine. Arrepiei-me toda; não que a música em causa seja de arrepiar mas porque as recordações ficaram ainda mais vivas. A música tem o condão de me fazer recordar as coisas de forma ainda mais nítida, parece que revivo a situação toda. E essa música trouxe-me imagens nítidas, como as minha botas dr. Martens, as minhas calças pretas elásticas, as minhas sweats de R.A.T.M., as minhas camisas de flanela aos quadrados. E os moshes. E os concertos. E o liceu. E a adolescência. Senti-me verdadeiramente trintona. Acho mesmo que me senti um pouco velha. Uma das minhas amigas, que era conhecida como a "metálica do Bairro do Cabeço", estava estática a olhar para o palco, quiçá também perdida em recordações.
Inevitavelmente, passou-me todo o meu tempo de liceu pelos olhos, e senti tantas tantas saudades! Posso dizer que vivi a minha adolescência ao máximo: cheguei tarde quando era suposto chegar cedo e tinha o meu pai à espera sentado na sala; fui castigada por não ter cumprido o horário de chegada a casa; fui castigada por emprestar a mota e depois aparecer com ela espatifada; inventei aniversários de amigos todas as semanas para poder ir para o English (cheguei a ter amigos que faziam anos várias vezes por ano); tive notas mais baixas do que as que costumava ter porque estava a atravessar uma fase menos boa; apanhei borracheiras quando ainda nem tinha idade para beber álcool; meti-me num comboio e fui para Castelo Branco sem o meu pai saber, só para ir a outra discoteca. Ah, bons maravilhosos saudosos tempos! A adolescência é a melhor fase da vida de uma pessoa; é dura, é difícil, é um turbilhão de hormonas e pensamentos e sentimentos, mas é de longe a melhor altura. Os amigos são tudo, a família apenas serve para alimentar, dar dinheiro e tecto, podemos mentir aos pais mas nunca aos amigos. Mas se vivêssemos sempre na adolescência nunca lhe poderíamos dar o valor que damos agora. E eu dou. Olho tantas vezes para trás e dou comigo a sorrir, a rever todas as "traquinices" que fiz. E apesar de agora a minha vida não ser tão emocionante como eu gostava, de vez em quando ainda me sinto como uma adolescente, com as tais "borboletas na barriga" e o turbilhão de sentimentos. E é bom.

Apesar de na altura ser apreciadora do hard rock, acho que esta poderia perfeitamente ter sido a banda sonora da minha adolescência. Que posso dizer que foi vivida ao máximo. E ainda bem!

Dancing Queen - ABBA


imagem: slaughterdogrecords.com/webpics/mosh.bmp

domingo, maio 24, 2009

A alma e o vento


A abertura de gavetas continua, embora a montagem de peças de mobiliário tenha abrandado um pouco.
Este pequeno caderno que folheio agora não tem uma única folha datada, mas pelos textos posso situar este algures entre 1993 e 1994 (xiiiii, sou mesmo muito antiga!). Escrever sempre me aliviou a alma e permitia-me viver situações que nunca poderia viver na realidade; a escrita transportava-me para outro mundo onde as coisas corriam sempre como eu queria. E sem dúvida que estes cadernos eram os meus melhores amigos, não desfazendo dos meus amigos de carne e osso, que também eram muito muito bons!

"Acho que sempre o amei. Agora tenho essa sensação. Desde pequenos que nos conhecemos e talvez estivesse destinado que nós nos uníssemos. A minha alma repousa, inquieta, completamente absorta em pensamentos estranhos. Mas em dias de vento, a minha alma acorda e liberta-se. Rodopia com ele, despenteia árvores, entranha-se no corpo de alguém e retira sabedoria. Quando o vento pára, ela volta a mim e utilizo a sabedoria que ela retirou.
Olho para ele de maneiras diferentes, como se fosse cada bocadinho das pessosas que a minha alma visitou a olhá-lo. Isso ajuda-me a compreendê-lo de muita maneiras. Mas continuo a não entendê-lo de outras.
Será que a alma dele não se liberta em dias de vento?
Um dia gostava que a minha alma o visitasse num dia de vento. Não saberia de imediato que fora a ele que visitara mas aconteceriam coisas que eu, mais tarde, compreenderia. Tento imaginar o que iria encontrar na alma dele. Bastante sofrimento, acho... Talvez, num dia de vento..."

Realmente é muito difícil tentar compreender um adolescente uma vez que, por definição, um adolescente não é para compreender. Mas eu não desisti, foram anos a tentar. Não consegui, mas a minha consciência ficou tranquila: ao menos tentei.

Ainda bem que não queimei os cadernos na lareira da minha casa...


(imagem: Alma e o Vento- óleo s/tela de Guilherme de Faria, 30x40cm, coleção Taís Cortez, São Paulo, Brasil)

quinta-feira, maio 21, 2009

Eu sou o anjo da Anunciação!


Hoje aconteceu-me uma das coisas mais emotivas que alguma vez experienciei: dizer a um casal que vão ser pais. Foi uma coisa inexplicável, acabámos as duas a chorar no átrio do hospital enquanto o marido olhava para nós com um ar feliz. Imagino a cena vista pelas pessoas que passavam...
Realmente o choro de felicidade é a coisa mais contagiante que existe, pior que a gripe A ou a indiferença. A felicidade que aquela rapariga sentia era tão forte que eu própria a senti, como se fosse eu a receber a notícia. E mais uma vez senti pena que não estar em contacto com os utentes, pena de estar "escondida" no fundo de um laboratório perdido num (mais ou menos) imenso hospital.
Não consigo descrever a emoção que me invadiu quando ela se apercebeu que a notícia era a melhor que ela podia receber, era a que ela queria ouvir; a princípio não conseguiu interpretar os meus sinais, o meu sorriso era "neutro", como ela própria disse, não dava para um lado nem para o outro. Mas quando "encaixou" a notícia, a onda de emoção foi tão grande que não consegui ficar indiferente. E chorámos as duas de felicidade, perante o ar embevecido do marido; acho que nunca tinha chorado de felicidade, foi a primeira vez. E soube bem.
Diz ela que foi a melhor notícia que já recebeu até agora. E que eu era o seu "anjo da Anunciação" e que até vinha vestida de branco e tudo! Ainda agora, quando me lembro disso, me vêm lágrimas aos olhos.
Vem uma nova vida a caminho. E eu fui a mensageira. Eu sou o anjo da Anunciação. :)

terça-feira, maio 19, 2009

"Onde estás, meu menino?"


Falando em gavetas, este já é bem velho e está escrito num caderno, guardado dentro de uma caixa de cartão, que por sua vez está dentro de, claro está, uma gaveta! É daquelas coisas que se devem guardar porque ainda nos conseguem fazer sorrir, embora no passado nos tenham feito chorar. Coisa complicada, a adolescência...

"Onde estás, meu menino, homem da minha vida? Procuro-te e não te encontro. O corpo que antes habitavas está ocupado por outra pessoa. Quem é vivo sempre aparece... Mas tu não apareces...
Eu não quero acreditar que morreste, mas acho que é o que, de facto, aconteceu. Tenho saudades de ti, homem da minha vida, que desapareceste, que te tornaste névoa, poeira, pó, algo ido, talvez sonho.
Tenho saudades de te ver na janela; aquele que habita o teu corpo nem sequer lá vai... Tenho saudades de te sentir nos meus braços, de te beijar, de ser beijada por ti...
Mas quem morre não volta... e tu morreste. Porquê? Porquê?... Lembro-me dos teus olhos escuros, do teu sorriso terno, de tudo o que nunca mais vai voltar.
Só gostava de poder ter-me despedido de ti, dar-te um beijo sabendo que era o último, olhar-te sabendo que nunca mais o poderia fazer de novo...
Porque é que morreste, homem da minha vida? Porque é que te mataram, porque é que te levaram?
Olho para trás e vejo a nossa história, tão linda, tão feliz, tão pura... e num momento, num relâmpago, tudo fugiu. E olhei para ti. Mas já não te vi, estavas morto.
Ainda hoje, que já encontrei outra pessoa com que poderia construir outra história, olho para a tua fotografia e sinto que o meu amor por ti ainda não morreu, e que o teu amor por mim ainda existe, muito fraco, tentando viver debaixo de tanta infelicidade, sofrimento e desilusão.
Morreste... Mas eu não quero acreditar... Porque as pessoas que eu amo não morrem nunca..." (algures entre Fevereiro e Março de 1995)

Algumas ressalvas:

- ninguém morreu mesmo, é a minha veia metafórica a falar; isto não é defeito, é mesmo feitio.
- tinha 17 anos quando escrevi este texto.
- para mim o amor era sempre acompanhado de sofrimento; o Bocage, ao pé de mim, escrevia comédias.
- fui uma verdadeira adolescente, com crises existenciais e períodos de apatia, em que ficava deitada na cama a olhar para o tecto e a imaginar cenas dramáticas.
- sei que o rapaz de quem este texto fala nunca gostou de mim, pelo menos não da maneira que eu queria que ele gostasse, mas sempre quis acreditar que sim.
- sei que amei de paixão esse rapaz, mas hoje não tenho tanta certeza que ele é o homem da minha vida.
- apesar de todo o sofrimento por que possa ter passado, não me arrependo de nada do que vivi porque me senti viva!

P.S. - Ah, e na capa desse caderno tenho os nossos nomes escritos por ele. Vale a pena guardar estas coisas!
P.S.2- E também tenho as minhas notas de 11º ano! Matemática e Filosofia eram as minhas piores notas. Já não me lembrava disto.

domingo, maio 17, 2009

Gavetas...


Talvez porque agora ande muito entretida montar móveis, tenho dado comigo a pensar na problemática das gavetas. As gavetas servem para guardar coisas, tanto coisas que estão a uso como coisas que já não servem para nada mas que não conseguimos deitar fora. Existem também umas coisas muito úteis chamadas "amortecedores de gaveta" que impedem que a gaveta feche com muita força e faça barulho.
Há quem tenha dificuldades em fechar definitivamente uma gaveta; uma gaveta definitavemente fechada não serve para nada, deverá até deixar de ser chamada "gaveta" e passar a ser chamada "arquivo morto" ou coisa assim.
As coisas guardadas numa gaveta devem ser coisas que ainda têm préstimo, que podem e devem ser usadas. Se uma gaveta deixa de ser aberta, deixa de fazer sentido, e por isso, se as coisas que estão lá dentro deixam de ter préstimo, devem ser deitadas fora para dar oportunidade a novas coisas para ocuparem essa gaveta.
Uma gaveta só é completa se correr livremente pelas calhas onde está encaixada, abrindo e fechando para que as pessoas possam retirar do seu interior as coisas que precisam ou guardar dentro delas as coisas que já não usam mas que acarinham e que querem manter perto de si.
Fechar uma gaveta para sempre é um contrasenso, devemos é livrar-nos das tais velharias que não têm préstimo e que não queremos perto de nós; podemos deixar de abrir uma gaveta com tanta frequência, mas se o que está lá dentro ainda tem algum signficado para nós, de vez em quando até podemos abri-la e olhar lá para dentro. E se o que estiver no seu interior nos fizer sorrir mais uma vez, é porque ainda tem algum préstimo e aí faz sentido estar numa gaveta. Que não se deve fechar definitivamente. Mas se o que está na gaveta é inútil e não serve para nada, nem para fazer alguém sorrir, então mais vale deitar fora. Gaveta incluída.

quinta-feira, maio 07, 2009

É a pronúncia do Norte...


No fim de semana fui ao Porto. O meu conhecimento da "Inbicta" resumia-se à saída para a A3 em direcção a Famalicão ou Braga, ao estádio do Dragão (que se vê da A1) e às portagens.
Mas desta vez resolvi aventurar-me pelas ruas do Porto. Tendo em conta que apenas conhecia a zona do estádio do Dragão, foi esse o sítio escolhido para deixar o carro. Devo dizer que a esta altura já sei o caminho para lá de olhos fechados, já nem preciso do GPS; apesar da beleza do dito estádio (até se me revoltam as entranhas enquanto escrevo esta linha), e tive a oportunidade de o observar bem pois parei ao lado 3 dias consecutivos, não vou mudar as minhas preferências clubísticas. O FCP tem um estádio bonito mas fiquemo-nos por aí, nada de cachecóis azuis e brancos ao pescoço, ok?
Como estava a dizer, deixei o carro na Avenida dos Campeões Europeus (por amor da santa, que nome para uma rua...) e fui para o Metro, que, para minha surpresa, é mesmo um metropolitano. Sempre imaginei o Metro do Porto como uma espécie de eléctrico e foi uma agradável surpresa quando verifiquei que era um "Metro-Metro".
O almoço foi no Capa Negra do Campo Alegre onde enfardámos uma "berdadeira frâncesinha", com linguiça e picante. Até saímos de lá com um sotaque esquisito, carago!
Depois do almoço, que ficou bem pesado no estômago, apanhámos o Metro na Casa da Música (construção peculiar, aquela; ainda não sei se gosto ou não...) e fomos até aos Aliados, tomar um café no Guarani, onde paguei a módica quantia de 1,20€ por um café! Passámos pela rotunda da Boavista, que me ficou no coração pela sua magnífica estátua de um leão a "depenar" uma águia. Lindo!
Descemos a pé até à Ribeira, que ADOREI!! Quase que me meti num daqueles "cruzeiros" no rio Douro, mas não havia muito tempo. Ficará para uma próxima oportunidade. Daí seguimos até à rua de Santa Catarina, que estava apinhada de gente nas lojas, nas esplanadas, em todo o lado! Não fiquei para a noite, mas hão-de haver mais oportunidades.
Gostei mesmo da cidade, realmente o Norte tem um encanto que o Sul nunca há-de ter, não sei se pela simpatia das pessoas, pelo sotaque delicioso ou pelo orgulho que os portuenses têm na sua cidade. Se algum dia tivesse que escolher uma cidade para viver, o Porto estaria certamente entre as hipóteses a considerar! É a pronúncia do "nuorte", carago!

terça-feira, maio 05, 2009

Também gosto muito desta...

Pela melodia, pela letra, por ser Caetano. Só mesmo ele para escrever uma música assim. Que já tinha sido mencionada noutro post que escrevi em 2006. Há músicas que marcam uma vida.