quinta-feira, setembro 13, 2007

"Put the cream on the ball" ou "Bolinhas da ASAE"



Após um período de loooongas férias (mas só de blog, que de trabalho foram só 2 semanas) estou de volta!
Esta última semana de férias passada no Algarve/Allgarve, mais precisamente em Portimão/Foryouhand mostrou-me uma realidade terrífica para mim: já não há bolas de Berlim com creme na praia! Essa instituição que é a "bolinha", vendida por homens e mulheres vestidos de branco, com geleiras ao ombro e que calcorreiam a praia milhentas vezes por dia faz parte do meu imaginário de infância, em que eu comia, sem exagero, 3 ou 4 bolinhas com creme de uma assentada só, regadas com uma garrafa de água fresquinha e que acabava, invariavelmente, no WC mais próximo.
Ora eu só como bolas de Berlim na praia; só lá é que me sabem bem, pronto. Passo então o ano todo a "sonhar" com as toneladas de bolas com aquele creme maravilhoso. No ano passado não fui ao Algarve/Allgarve e por isso não comi bolas de Berlim; este ano estive em Albufeira/Allbufeira em Maio mas ainda não era a época das bolinhas. Era natural que eu estivesse cheia de vontade de trincar uma daquelas bolas maravilhosas com que sonho o ano todo mas só como na praia porque só aí faz sentido para mim. E eis quando, depois de 2 ou 3 anos sem ouvir aquela buzina de calhambeque e o pregão "Olhá bolinha!", eu dou um salto da toalha, corro para o vendedor que carrega a geleira e me apercebo que só há bolinhas sem creme! O senhor que chega antes de mim para comprar bolinhas (com creme) fica espantado quando o vendedor lhe responde à sua pergunta "não tem com creme?", "não, a ASAE não permite."
Mas quem é esta ASAE, que proíbe um dos ex-libris das nossas praia algarvias? Ok, o creme com o calor pode estragar-se e é para bem do consumidor que se apertou a fiscalização, mas convenhamos que as bolinhas com creme não chegam a durar uma hora dentro das geleiras. Não foi só uma vez que verifiquei que o vendedor nem a meio da praia chegava com a geleira cheia, alguns banhistas desapontados porque já não havia mais bolinhas, situação que o vendedor prontamente resolvia, dirigindo-se para o ponto de abastecimento. Fiquei triste, embora isso não me impedisse de comprar uma bola sem creme todos os dias, e saboreá-la como se estivesse a comer uma verdadeira bola de Berlim. Sim, porque me recuso a chamar "bola de Berlim" a uma bola que é em tudo igual a uma bola de Berlim mas sem a essência da bola, o creme. Por isso, proponho que se chamem à bolas sem creme que se vendem na praia "bolas da ASAE".
É de notar que a ASAE deve estar a pensar em abrir um franchising, uma vez que parece que também andam a chatear o pessoal que cozinha o cabrito no forno de lenha (aí será "cabrito no forno à moda da ASAE", isto é, no forno sem ser de lenha), que faz empadas em casa e que são mil vezes melhores que as que se fazem nas padarias e hipermercado, e que tem salsa no seu quintal e até a quer vender na praça mas não pode, não há facturas nem guias de transporte.
Por favor, há estabelecimentos comerciais que, apesar de terem instalados todos os procedimentos de higiene, HACCP e ISO qualquer coisa, são bem mais sujos que as nossas cozinhas. Atenção, acho bem que fiscalizem, ainda bem que fecharam todos aqueles restaurantes chineses e pastelarias que tinham bolor nas batedeiras do pão. Mas deixem em paz as bolas de Berlim da praia, o cabrito no forno (que eu nem aprecio mas que acredito que, para quem gosta, saiba um trilhão de vezes melhor se for feito em forno de lenha e na travessa de barro) e as empadas caseiras. Agradecida.