domingo, outubro 29, 2006

O passado, este país distante...



Há um escritor, cujo nome agora não me lembro, que se refere ao passado como um "país distante". Eu digo mais, é um país distante, onde as pessoas são estranhas, apesar de vagamente familiares.
Nestes dias tenho andado especialmente saudosista, talvez influência do tempo ou do avanço da idade, não sei... Por isso, resolvi ir buscar os meus cadernos onde durante anos escrevi os meus pensamentos e as minhas histórias. E foi uma viagem estranha, diria mesmo perturbante. Fui eu que escrevi tudo aquilo, fui eu que vivi aquelas situações, e ao ler tudo aquilo acabei por reviver algumas delas; mas foi estranho, porque não me reconheci naquela adolescente. Lembro-me de algumas das situações que estavam ali relatadas, tenho a chamada "memória de elefante", inclusive da roupa que usava ou da data em que aconteceu determinada situação. Mas não me reconheço nas reacções daquela miúda que eu era.
Quando fui buscar a caixa onde guardo esses cadernos, ia decidida a lê-los de fio a pavio; no entanto, ao iniciar a leitura, comecei a ficar perturbada. E ainda mais perturbada fiquei quando me apercebi que estava a ficar perturbada ao recordar acontecimentos que datavam de há mais de 10 anos! Chego à conclusão de que o passado deve ficar onde pertence, no passado. Não que me arrependa de alguma coisa, "arrepende-te do que fizeste, não do que não fizeste", apenas são coisas que não fazem sentido no presente, pertencem, claro está, ao passado. No entanto, ao mesmo tempo foi bom recordar isso. Sentir no peito quase o mesmo que senti quando escrevi tudo aquilo. Sentir que houve qualquer coisa que mexeu muito comigo, que me fez rir e que me fez chorar, chorar muito.
Talvez neste momento me sinta um pouco vazia, porque não há nada que me faça rir ou chorar com a mesma intensidade, mas ao menos já houve. O que não é nada mau, para prémio de consolação...

domingo, outubro 22, 2006

E chove e chove e chove... E o Imago já lá vai...


Já voltou a chuva, ou melhor, já veio a chuva; tendo em conta o pouco que choveu o ano passado, penso que será mais correcto dizer que "a chuva veio" em vez de "a chuva voltou". Bem, adiante...
Está um daqueles Domingos feitos exclusivamente para ficar em casa a ver filmes. O barulho da chuva a bater no telhado e nas caleiras é quase hipnótico, dá vontade de não sair de casa.
O Imago já lá vai, foi um pretexto para inaugurar a Moagem, a meu ver um pretexto um pouco forçado, mas enfim... O espaço está engraçado e tal, mas para o Imago a que nós, fundanenses, estamos habituados é inadequado. Aquelas escadas de metal são um perigo, principalmente quando estão regadas de cerveja; estava a ver a altura em que iriam ceder com o peso de tanta gente a subir e a descer.
Depois aquela cena elitista chamada "guest list"; por amor de Deus, é um festival de cinema e música, não é uma festa do jet-set. Não?
De qualquer maneira, foi bom o Imago ter sido realizado naquele espaço pois permitiu a ascensão de outro espaço que estava esquecido na memória das gentes fundanenses (pelo menos na minha estava): a tasca da estação! Um espaço remodelado e bastante agradável, onde o pessoal que não constava da famosa "guest list" se reunia para beber umas minis e comer umas bifanas, bem boas por sinal. Um espaço imortalizado pelos Jerónimo e os Cromagnon no seu êxito "A Tasca do Sr. Zé da Estação" mas que não era um ponto de encontro muito habitual do pessoal mais jovem. Gostei da tasca.
Não assisti a uma única curta ou concerto, fui pelo convívio,pelo banho de gente nova; gosto de cinema mas confesso que não sou uma cinéfila erudita, gosto dos filmes comerciais que saem em DVD, não sei apreciar o cinema como arte, mea culpa.
Agora resta esperar pelas férias do Natal para ter mais um banho de gente, desta vez de gente amiga. Porque nesta terrinha, fora destes acontecimentos, não se vê ninguém. Será a tão falada desertificação? Talvez, mas desde que, de tempos a tempos, eles voltem, está tudo bem.