quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Parabéns, Charles Darwin!


Como orgulhosa bióloga que sou, não poderia deixar de dar os parabéns a Charles Darwin, que faria hoje 200 anos. É uma bonita idade, 200 anos... E é bonito ver que após quase 200 anos, alguns dos fundamentos da sua teoria de evolução das espécies estão perfeitamente adaptados ao nosso mundo.
No seu livro "A origem das espécies", Darwin introduziu a ideia de que todos os seres vivos evoluíram de um ancestral comum e que essa evolução seria "conduzida" pela selecção natural, ou seja, os caracteres hereditários que favorecem a sobrevivência de um indivíduo num determinado ambiente são cada vez mais frequentes nas gerações seguintes, resultando numa população perfeitamente adaptada a esse mesmo ambiente. O problema é quando o ambiente que rodeia a população muda, aí está o caldo entornado, e os tais caracteres que até favoreciam a população num determinado ambiente passam a ser desfavoráveis num outro, e a população, outrora perfeitamente adaptada, passa a ser "peixe fora de àgua" e corre o risco de se extinguir. Resumidamente, é a lei do mais forte: adaptas-te, tudo bem; não te adaptas, já foste.
(lentamente, a fase darkness está a desparecer...)

terça-feira, fevereiro 10, 2009

O primeiro borrão de 2009...


Realmente tinha começado bem, o ano. Ainda não tinha havido braços a esbarrar com tinteiros e a deixar borrões nas folhas. A caligrafia até estava a sair bonitinha, sem erros ortográficos. E de repente, a letra começa a sair torta, erros ortográficos aparecem sabe-se lá de onde e tenho que começar a tentar emendá-los. Estava convencida que o caderno não ia ter rasuradelas mas pelos vistos enganei-me.
Ainda dizem que este ano é o ano do Aquário; que seria se não fosse...
(Espero que esta malvada fase darkness passe rapidamente, quero estar na fase wonder!!)

É mais do mesmo... que miséria!

Bem gostava de escrever algo mais alegre mas realmente a coisa está preta. E agora já nem posso culpar a chuva pela minha "depressão", uma vez que S. Pedro finalmente ouviu as preces de muitos crentes aqui em baixo e fechou a torneira. Parece que a "culpa" desta "depressão" está mesmo algures entre a minha cabeça e os meus pés...
Neste momento, sinto-me cansada. Não cansada fisicamente, mas um cansaço psicológico, se é que isso existe. Estou farta de ver injustiças, farta de ver singrar quem não merece, farta de tentar mostrar o que valho e ninguém ver. Por isso começo a questionar: "será que valho mesmo aquilo que penso?". Pergunta estúpida, absurda mesmo, acho que ainda sei avaliar as minhas qualidades. Mas olho à volta, e a dúvida assalta-me: "se calhar há aqui qualquer coisa que me escapa...".
Sempre fui lutadora, sempre tentei lutar por aqui que queria, às vezes até à exaustão, às vezes mesmo quando já não havia mais por que lutar. Mas agora estou cansada. Já não me apetece lutar. Apetece-me deixar-me ir à deriva dos acontecimentos, tipo folha de árvore que caiu num rio de águas tumultuosas e que espera para ver onde a corrente a vai levar. Vejo tantas pessoas a quem as coisas caem na sopa, assim sem mais nem menos, e penso: "porque é que, por uma vez na vida, não pode cair-me uma coisa fixe na sopa, tipo um fio de natas, em vez de caírem moscas atrás de moscas?". Uma coisa. Não peço mais. Depois de tantas lutas perdidas, de tanta energia desperdiçada com batalhas vãs, só peço uma coisa fixe a cair-me na sopa; pode ser um fio de natas, um punhado de "croutons" (sabem, aqueles pedacinhos de pão frito que se põem nas sopas passadas) ou até um ovinho batido (como na sopa de tomate).
Sei que as coisas têm mais valor e outro sabor (rima inesperada) quando são obtidas com esforço, mas um presente da vida de vez em quando até que sabia bem. Tenho muitas coisas boas, e lutei por todas elas, e tenho orgulho disso. Mas parece que há coisas que têm que ser oferecidas pela vida, e parece que há pessoas que têm um íman para atraírem essas coisas. Eu acho que não tenho esse íman... Até podia ser o meu presente da vida, um íman para atrair coisas boas! Se funcionar tão bem como o "caçador de sonhos" que tenho por cima da cama...
Sei que a felicidade absoluta não existe, o que existe são momentos felizes, e eu consigo ter vários momentos desses com coisas que parecem não ter grande significado (planear ir comer um gelado depois do trabalho, receber uma chamada de um amigo de quem há muito não tinha notícias, ir ao cinema com os amigos). Mas às vezes isso não me chega...

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Direito de matar ou direito de morrer...?


Hoje de manhã ouvi nas notícias que finalmente autorizaram a retirada da alimentação artificial que mantinha viva, embora em estado vegetativo (será que estava mesmo viva?) uma mulher de 38 anos, Eluana Englaro. Fiquei contente, sou uma defensora acérrima da eutanásia; acho cruel prolongar uma vida que não bem uma vida, é um estado, é apenas estar ali, é apenas ser observado sem poder observar, é não ser autónomo, é precisar de uma máquina para respirar, para comer. Isso para mim não é viver.
Na famosa Wikipédia, a eutanásia (do grego ευθανασία - ευ "bom", θάνατος "morte") é definida como "a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida por um especialista.". Ou seja, acabar com um sofrimento que ninguém pode compreender, só mesmo quem está a passar por ele. Para mim, isso é um acto de misericórdia, não é um crime.
Claro que não é fácil tomar essa decisão. Quando o "enfermo" está consciente, a decisão é dele. Lembro-me da história de Ramón Sampedro, um espanhol que ficou tetraplégico num acidente e esteve 30 anos deitado numa cama. O caso dele comoveu-me, quando via as reportagens dele a pedir encarecidamente que o matassem porque ele não tinha força sequer para se suicidar, inconscientemente punha-me no lugar dele e tentava imaginar o que seria estar presa a um corpo inerte. Lembro-me de ele dizer que era uma cabeça presa a um cadáver e que já não queria viver assim. Era um homem na posse das suas faculdades mentais (embora admita que pudesse haver ali um toque depressivo) que não era capaz sequer de levantar um braço, quanto mais suicidar-se. Até para se suicidar precisava de ajuda! Ainda hoje me lembro de ver no Telejornal o jornalista anunciar que finalmente Ramón Sampedro tinha morrido, uma morte horrível por envenenamento com cianeto de potássio; não mereceria este homem uma morte digna, sem sofrimento? Não mereceria este homem partir em paz, serenamente, depois de 30 anos de sofrimento diário sem fim à vista? Infelizmente, a lei é clara e não é possível, pelo menos em Espanha, por fim à vida de um tetraplégico que não tem qualquer hipótese de um dia voltar a ser autónomo, e que está numa angústia psicológica brutal porque tem plena consciência disso.
Agora põe-se a questão de o "enfermo" não ter consciência de nada. Estar em coma, em estado vegetativo, apenas subsiste porque existem máquinas que o alimentam, que respiram por ele. A família vê-se a braços com uma decisão difícil. Eu sei, eu já passei por isso. Mas apesar da carga psicológica, acreditem que não é assim tão complicado como uma pessoa pensa. Basta pensar um pouco nas consequências de manter viva uma pessoa que está "morta"; eu era uma criança, o meu pai explicou-me da melhor maneira que soube e eu compreendi. E não hesitei em responder que era melhor desligar a máquina; porque compreendi que estar vivo não é só ter o coração a bater e os pulmões a oxigenar o sangue. Estar vivo é estar em contacto com o que nos rodeia, é poder reagir a um abraço, a um beijo, a um sorriso. De que serve ter o coração a bater se não se pode abraçar quem se ama e senti-lo bater mais depressa?
Apesar de defender a eutanásia, há uma coisa no caso da Eluana que me deixa apreensiva: os médicos apenas lhe vão retirar a alimentação e a hidratação. Ela vai demorar quase duas semanas a morrer, e vai morrer de fome e de sede. Ora, para mim isto não é bem bem eutanásia. O anestesista que acompanha o caso diz que ela não vai sofrer porque não tem actividade cerebral mas o facto é que vai ser uma morte lenta. E para mim a eutanásia devia ser uma morte relativamente rápida.
Recordo um filme, "Dead Man Walking", em que um preso é condenado à morte por injecção letal. Isto não é eutanásia? Porque é que dão uma morte indolor e rápida a um criminoso que matou não sei quantas pessoas à machadada e não mostra um pingo de arrependimento, e a uma desgraçada que está em coma há mais de 15 anos porque teve um acidente de viação deixam-na morrer à fome? Hum, sentimentos contraditórios apoderam-se de mim. Já não sei se estou assim tão contente por terem autorizado a retirada da alimentação artificial a Eluana Englaro.
O que continuo a defender é o direito a viver uma vida digna e autónoma, e quando isso não é possível, ao menos que se tenha direito a morrer com dignidade.