domingo, outubro 03, 2010

Ressabiamento com 18 anos

Hoje tem lugar o último concerto em Portugal da tour 360º dos U2. Quando puseram os bilhetes à venda no ano passado não consegui comprar nenhum; durante o ano fui ouvindo falar no concerto, nos bilhetes, gente ainda à procura deles. De quinta feira para ontem não pararam de chover mensagens de pessoas a querer vender bilhetes, muitas delas a quererem fazer negócio vendendo os ditos bilhetes, que em alguns casos custaram cerca de 70€, a preços bem acima dos 100€. Comecei a ficar assim a modos que enervada porque gostava de ir ver o espectáculo, mas não idolatro assim tanto os U2 e nunca daria por um bilhete para um concerto deles mais do que o preço real do bilhete (nem deles nem de nenhum outro grupo). E resignei-me a não ir, afinal até já vi um concerto deles e nessa altura eu ouvia muito U2, fazia mais sentido para mim (deixei de ouvir U2 há uns anos, agora só ouço mesmo o que passa na rádio). O pior foi quando me apercebi que havia gente a vender os bilhetes pelo preço real deles. Aí é que me enervei mesmo. Embora não conheça muito da discografia actual deles (como disse, só ouço o que passa na rádio) até gostava de ter ido, pelo espectáculo que caracteriza as actuações deles. Lembro-me que no concerto de 1997, no já extinto estádio de Alvalade, do palco fazia parte um gigante limão para onde toda a gente olhava (clara referência à musica "Lemon" do álbum que dava nome à tour daquele ano, a Pop Mart Tour 97), à espera de os ver sair de lá. Tirando isso tenho muito poucas recordações do concerto, para além da entrada no estádio (como sportinguista que era (sou?) e com 19 aninhos, foi uma emoção descer ao relvado do estádio do meu clube), do limão e de uma rapariga escolhida do público ir cantar com o Bono. Ah, e das grades contra as quais estava a ser brutalmente esmagada e que teria certamente atravessado, não fosse um senhor, já com os seus 30 e muitos anos (portanto, à data, um quase idoso para mim), ter feito de barreira para mim e para as pessoas que estavam comigo e que eu não consigo lembrar quem eram (éramos um grupo grande e acabámos por nos perder uns dos outros). O homem era um fanático, lembro-me que era forte e alto, tinha uma t-shirt branca dos U2 com as datas dos concertos de uma tour qualquer nas costas e berrava a plenos pulmões "Sunday, bloody sunday!" enquanto tentava saltar no meio daquele compactamento de pessoas que se empurrava contra as grades. Apesar de não ter grandes memórias do concerto em si, sei que gostei, tanto quanto uma miúda de 19 anos podia apreciar um concerto dos U2. Claro que apreciei muito mais o dia seguinte, quando fiz o meu piercing. Disso nunca mais me esqueci!
Tinha portanto 19 anos e um ressabiamento com 5 anos: o concerto de Guns´n´Roses em 1992, ao qual o meu pai, evidentemente, não me deixou ir. O concerto de U2 foi o meu primeiro grande concerto, mas devia ter sido o dos Guns, esses sim eu idolatrava: tinha as paredes do quarto forradas com posters deles, tinha uma pasta com recortes de notícias, fotos, tudo o que saía na imprensa sobre eles. Sabia as músicas todas, tinha todos os álbuns, pedia como prenda de Natal cassetes VHS com o concerto deles em Tóquio. Por um bilhete para um concerto deles eu teria (na altura) passado uma noite em claro, ao frio. Digamos que o concerto dos U2 foi um "prémio de consolação" que o meu pai me deu por não ter permitido que eu fosse ao dos Guns. Por isso me disse logo que sim e me comprou ele próprio o bilhete (na altura foi só ir ao Banco Português do Atlântico e comprar; simples); por isso e por já ter 19 anos e estar na universidade.
Agora passa-se o inverso: vou ver Guns como prémio de consolação por não ter ido ver U2, desta vez não por o meu pai não me deixar ir, mas por não ter conseguido comprar o bilhete, seja por não ter conseguido arranjar um há um ano atrás, seja por não ter vil metal disponível para o comprar agora. Apesar de estar entusiasmada (há 18 anos estaria histérica, delirante, em êxtase) não deixo de estar um pouco apreensiva pois não sei o que vou encontrar; quer dizer, até sei: um Axl Rose com 45 anos, sem os calções brancos, mas diz quem já os viu nesta digressão que continua a ser o Axl Rose. Até dizem mais, "ele está mais velho e ainda bem porque nós também!", grande verdade. De qualquer maneira, até me posso arrepender mas como diz uma amiga minha, "arrepende-te do que fizeste e não do que não fizeste". Tenho um bilhete para o concerto dos Guns'n'Roses, com 18 anos de atraso, é certo, mas se não lhe der uso ainda me vou arrepender mais. E tendo sido os Guns A minha banda, A banda da minha adolescência, A banda que eu idolatrei durante uns anos, tenho que ir vê-los. Para que não fique nenhum ressabiamento por resolver. Menos um na lista, venha o próximo.