sábado, maio 01, 2010

"Linha orientadora" ou "capricho do destino"

Embora não seja fanática da teoria do destino, em que se defende que nascemos com o nosso percurso de vida traçado, tenho que me render às evidências e aceitar que quando o destino se orienta numa determinada direcção, é quase impossível mudá-lo.
Sempre acreditei que nascemos com uma linha orientadora traçada, mas que o destino somos nós que o fazemos; vamos sempre parar àquela linha mas o caminho que percorremos até lá chegar, somos nós que o traçamos. É como a história daquele senhor que vai à bruxa e esta lhe diz que vai morrer num acidente de avião; ao ouvir isto, o senhor evita o dito meio de transporte e durante anos consegue escapar ao trágico destino. Até ao dia em que cai um avião em cima da sua casa e o senhor morre. Moral da história: por mais voltas que demos, vamos sempre parar à linha orientadora.
Eu sempre quis ser médica. Lembro-me que, quando o hospital da Covilhã estava a ser construído, sempre que ia para Aveiro, e da estrada via o local das obras, dizia "Um dia ainda hei-de trabalhar ali...", semana após semana, durante 4 anos. E de facto aconteceu, não como médica, mas fui lá parar. A minha linha orientadora apontava para ali e eu lá fui parar.
O facto de não acreditar em coincidências também reforça a minha "rendição" ao poder fantástico do destino. Para algumas pessoas, destino e karma são a mesma coisa; eu considero que são duas "entidades" distintas, mas é apenas a minha interpretação. Talvez para mim o karma tenha uma conotação mais pesada, como um fardo que se traz de uma outra existência, uma penitência que tem que se cumprir por erros passados. Para mim o karma é sempre mau, embora saiba que não é assim; a mim soa-me sempre a coisa ruim. Já o destino parece uma coisa mais leve, o destino pode ser bom, embora nem sempre seja.
Às vezes fazemos tudo o que está ao nosso alcance para mudar o rumo das coisas; no entanto aparecem sempre empecilhos, pequenas pedras na engrenagem que nos impedem de atingir o nosso objectivo. Conseguimos retirar algumas dessas pedras, resolver alguns dos contratempos, mas eles continuam a aparecer como cogumelos. Nessa altura temos que nos render às evidências: não está no destino que determinado acontecimento tenha lugar. E apesar de acreditar que somos nós que traçamos o nosso destino, a linha orientadora está lá. E não vale a pena gastar energia para a tentar mudar, por mais voltas que dermos, vamos sempre, mas sempre, lá parar...

"Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho
senão há marcas no mar..."

António Machado
poeta espanhol