quarta-feira, abril 14, 2010

Danke schön, Wien!

Os brasileiros têm uma fixação pela Europa. Basta ver uma ou duas novelas produzidas do lado de lá do Atlântico para nos apercebermos que, para eles, a Europa é um mundo cheio de coisas boas. É na Europa que existem as melhores lojas, a água Evian é um "must" para eles (eu já provei e acho que é uma bela porcaria, viva a nossa Luso, Vitalis ou Glaciar!) e estudar na Europa é uma mais-valia para o currículo de qualquer "brasuca".
Eu vivo na Europa (acho que Portugal AINDA pertence à Europa, embora por vezes não pareça) mas também sinto um fascínio por essa "outra" Europa que fica para lá de França, que era a fronteira da "minha" Europa.
Alguém escreveu ou disse, um dia, que quando viajamos, trazemos sempre connosco um pedaço dos sítios que visitámos, e que a nossa personalidade vai sendo construída com esses pedaços. Em suma, cada sítio que visitamos muda-nos um pouco. Estes dias passados em Viena mudaram-me, mas acho que foi mais que um pouco, foi mesmo muito. Não sei bem porquê; talvez porque me senti bem num país que não é o meu, numa língua que não é a minha. Talvez porque me senti adaptada a uma realidade que me é estranha. Talvez porque caminhei nas ruas e andei no metro e me diluí no meio daquela gente toda, sem sentir que era uma "estrangeira". Pode parecer estranho e infantil, mas senti-me invencível, orgulhosa de mim por conseguir viver como minha uma rotina que não é a minha; consegui sentir que fazia parte de uma cidade que não é minha. Consegui "fundir-me" com Viena. E gostei da sensação.
Andar naquelas ruas cheias de edifícios magníficos e imponentes, respirar aquele ar cheio de História, ir à ópera (que foi um momento tocante, a minha primeira ida à ópera foi em Viena!), ouvir o "Danúbio Azul" tocado na terra do seu compositor. Ouvir a minha música clássica preferida (Air Suite nº3, de Bach) tocada ali, a uns metros de mim foi arrepiante, não consegui conter as lágrimas; esta música traz-me à lembrança um dia específico da minha infância, um dia sem nada de especial mas em que eu me lembro de ouvir esta música na rádio, num anúncio a um banco, enquanto me vestia e a minha mãe me preparava o pequeno almoço. Realmente, o que se leva da vida é o que se goza.
Sinto-me diferente, não sei se para melhor, mas seguramente diferente. Perdi o medo de voar. Perdi o medo de estar "sozinha" numa terra estranha, perdi o medo de não saber desenrascar-me. (ah, esse hábito tão português do "desenrascanço" foi uma preciosa ajuda para mim!)
Estes dias em Viena fizeram-me crescer como pessoa. Este crescimento provoca alguma dor e desconforto, mas faz parte de qualquer tipo de crescimento, de termos a noção que estamos diferentes. Que, de alguma maneira, mudámos de pele. Agora tenho mais um pedacinho de outra cidade dentro de mim. E isso faz de mim uma pessoa diferente da que eu era há uma semana. E essa mudança faz-me ter noção que aquilo que eu quero nem sempre é aquilo que eu preciso, que aquilo que eu quero pode não ir de encontro às minhas expectativas, que aquilo que eu quero pode não ser o "conto de fadas" com que sonho. Por tudo isso, agradeço a essa cidade maravilhosa (que não é no Brasil mas sim na Europa) que, por algum motivo que eu não entendo, me fez crescer mais um pouco. Danke schön, Wien!