quarta-feira, abril 13, 2011

Perseverança: defeito ou qualidade?

Nestes tempos conturbados de crise e FMI e desemprego, começo a questionar-me se ser perseverante é uma qualidade ou um defeito.
Como disse no post anterior, sinto que há algo mais para mim e continuo a lutar e a procurar, embora não saiba muito bem qual é o alvo da minha busca. Sinto-me incompleta e talvez seja por isso que procuro sempre lutar por alguma coisa. É uma forma de me sentir "viva"; o sentimento de expectativa de algo faz-me correr uma espécie de adrenalina nas veias, mas uma adrenalina boa, que não me assusta nem me provoca pânico. É quase uma adrenalina calmante, por mais contraditório que possa parecer; é o sentir que estou a fazer algo por mim, que não me sento à espera que a vida me dê algo, que parto à luta pelas coisas. Sinto uma espécie de orgulho de mim própria.
A 3 dias de iniciar mais uma demanda por um sonho antigo (posso dizer " a iniciar mais uma vez", tendo em conta que é a 4ª vez que tento) começo a pensar se estarei a fazer a coisa certa. Quer dizer, eu sei que é uma coisa que eu quero desde sempre, mas agora eu estou um pouco diferente, já vivi outras coisas; a minha vida agora é muito diferente da vida que eu tinha quando tentei pela última vez entrar em Medicina, estava no 2º ano da Universidade, prestes a passar para o 3º, já lá vão 13 anos. Agora tenho outras responsabilidades, outra idade, mas o gosto e o sonho da Medicina continuam cá. Se calhar com outra calma e sem a urgência dos 20 anos. Mas ainda continuam por cá.
Nesse último ano que tentei entrar no curso de Medicina, e mais uma vez falhei, o meu pai disse-me "deixa lá filha, não está no teu karma". E essa frase tem-me passado pela cabeça muitas vezes nestas últimas semanas. Estarei a forçar uma coisa que não está destinada a ser? Será que deveria parar de lutar? Saber desistir é uma virtude...
Imagino como será se conseguir entrar. O momento em que vou saber o resultado. A minha reacção. A decisão nada fácil que vou ter que tomar, seguir o sonho ou escolher a segurança e o conforto. Claro que digo a toda a gente que tenho tempo para decidir (e tenho), que não vale a pena estar a morrer de véspera como o perú, que posso nem sequer chegar à fase final e posso nem sequer entrar, por isso não vale a pena estar a mortificar-me com decisões que nem sequer sei se vou ter que tomar. Mas minto se disser que não penso nisso de vez em quando, ultimamente cada vez mais. E minto também se não disser que me aquece o coração imaginar que finalmente consigo.
Tenho medo de não conseguir tomar uma decisão. Com a crise que vivemos, com o desemprego a aumentar, com os tempos difíceis que se avizinham, marcados por frases "quem tem emprego que o agarre bem!", tenho medo de não conseguir tomar uma decisão. Tenho medo de largar tudo e depois não ser capaz (porque agora eu tenho 33 anos, 11 passados a trabalhar num hospital e já sei o que me espera) e tenho medo de me acobardar e ficar para sempre a pensar " e se eu tivesse ido?". Sei que não quero ficar a trabalhar para sempre onde trabalho. Sei que quero fazer outras coisas, que a rotina está a matar-me aos poucos, que a desmotivação cresce todas as semanas. Sei que há algo mais para mim, que eu não posso estar guardada para isto, tem que haver mais.
Estas dúvidas que me assaltam fazem-me pensar que afinal, se calhar já não quero assim tanto ir para Medicina. Ou então é o peso das responsabilidades que assumi. E é por isto que não sei se faço bem em tentar uma 4ª vez. Porque estou a ter que lidar com a possibilidade de entrar e ter que tomar a decisão mais difícil da minha vida (até agora).
Sem dúvida que saber desistir é uma virtude. Mas como é que sabemos que chegou a hora de desistir? Começo a ficar confusa e a pensar demais nas coisas, tento racionalizar tudo quando sei perfeitamente que há coisas que não podem ser racionalizadas.
Sei que isto são os nervos que começam a dar sinal, apesar da minha aparente calma e descontracção estou a "fervilhar". Mas independentemente do resultado, sei que tenho que fazer isto. Para exorcizar este fantasma de uma vez por todas. Só espero ter maturidade suficiente para tomar uma decisão. Se a isso me vir obrigada.

3 comentários:

Azulinha disse...

Minha Querida, acompanhei de perto duas dessas tentativas e, muito sinceramente, acho que deves esta 4ª a ti mesma!
Toda a força! Seria com toda a certeza muito pior ficares a massacrar-te pensando que não tinhas tentado...E se?
Mais, a Débora que conheço (e nisso acho que não deverá estar assim tão diferente de há 11 anos) conseguirá sem qualquer dúvida escolher o rumo certo, seja ele qual for!
Um beijo grande pra ti (era bom ter-te cá de volta)

Bachelorette disse...

Minha querida Fia, nunca pensei dizer isto, mas era bom estar de volta a Aveiro. :)
Bem hajas pelas palavras de encorajamento, são meio caminho andado para o sucesso da minha demanda. Um grande beijo para ti!

Ana disse...

Como a entendo..... Eu estou a tentar pela 2ª vez, com fracas possibilidades de conseguir... também me questiono se deva tentar uma 3ª ou ''arrumar as botas''. Não sou mulher de desistir, mas também não quero estar para sempre a tentar algo que insiste em não se concretizar..