quinta-feira, abril 28, 2011

Amizade

 Imagem: kimcats
Quando era adolescente dizia muitas vezes, normalmente depois de uma das muitas "discussões" que temos com os nossos amigos na adolescência, "a amizade não se nega a ninguém". Numa época em que os amigos são tudo e os pais apenas "servem" para nos alimentar e dar dinheiro, ai deles que se intrometessem na nossa vida, quando se iniciava uma amizade era para sempre. Quando havia um conflito, a maior parte das vezes por coisas insignificantes agora, mas de importância extrema na altura, ambas as partes queriam ser detentoras da razão e era difícil chegar a um consenso. Passada essa fase, começavam as tentativas de aproximação de forma subtil, ninguém queria dar o braço a torcer, mas a amizade é tão importante na adolescência que rapidamente o orgulho era deixado de lado e tudo voltava a ser como antes. Essa era a grande vantagem das zangas de amigos na adolescência, não se guardava rancor.
Como Aquariana que sou, gosto de ter os meus momentos de solidão, sabem-me bem, mas não consigo estar muito tempo sem ver os amigos. Uma ida ao café, uma noite na discoteca, uma semana na praia, nada disto tem piada sem os amigos. E por isso eu dou tanta importância aos amigos, é preciso tentar sempre não "fechar portas" quando surgem conflitos, agora muito mais difíceis de resolver do que na adolescência. Quando uma amizade vale a pena há que lutar por ela. Mas quando é que sabemos que uma amizade vale a pena? Como separar o trigo do joio, que é como quem diz, saber distinguir o que é amizade do que não é?
Outra coisa que era comum na adolescência era separar muito bem separado os amigos dos namorados, ou se é uma coisa ou se é outra. Agora é claro que a segunda não pode existir sem a primeira, mas a questão era outra: quando o namoro acabava, normalmente acabava a amizade. Melhor dito, quando o namoro começava, estava escrita a sentença de morte da amizade. Com o fim do namoro lá se ia a amizade. Com todas as provocações, falso desprezo e outras "provas de maturidade" tão típicas da adolescência.
Sempre achei mais suportável uma traição de namorado que de amigo, embora não saiba muito bem porquê. Um amigo é alguém nos completa, alguém que não nos pode desiludir, é a nossa alma-gémea, que sabe dizer a palavra certa no momento certo. De um namorado já se pode esperar mais qualquer coisa, a pessoa com quem estamos é a pessoa da nossa vida até aparecer outra; afinal de contas, não conhecemos todas as pessoas do Mundo.
É verdade que, muitas vezes, o fim de um relacionamento amoroso "mina" todas as amizades que surgiram entretanto (inclusive entre o próprio casal), e embora eu o consiga perceber, não acho muita piada. Claro que isso vai muito da forma como ambas as partes se vêm uma à outra, e muitas vezes é a única opção. Se uma das partes continuar a olhar para a outra como "ex-qualquer coisa" é possível que a amizade esmoreça e acabe por desaparecer. Por muito esforço que se faça para apagar a imagem do "ex" e mostrar que vale a pena lutar pela amizade. Porque até pode não resultar como namoro mas pode ser a amizade perfeita. Daquelas em que se sente vontade de estar com a pessoa só pelo prazer de desfrutar da companhia. Mas isso é impossível quando ainda paira no ar a imagem do "ex-qualquer coisa". E também quando se sente que a nossa presença não é desejada; também não será indesejada mas não é imprescindível, é uma espécie de "mal necessário". Acabamos por sentir falta da companhia, das conversas, do à-vontade. Acabamos por sentir que não soubemos separar o trigo do joio. De certa forma, acho que nos sentimos enganados, porque até tentámos preservar a amizade mas sem saber se essa era a vontade da outra parte.
Agora sei que não é verdade que a "amizade não se nega a ninguém"; o que é verdade é que a amizade não se pede, ou se sente ou não se sente. De facto, não vale a pena passar tempo com alguém que não está disposto a passá-lo connosco, mas continuo a achar que pode ter sido tempo gasto, mas nunca terá sido tempo perdido.

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