quinta-feira, setembro 24, 2009

Vírus "travestido"?


Telejornal de hoje: "A primeira vítima mortal do vírus da gripe A H1N1 morreu de infecção bacteriana generalizada". Ou seja, a primeira vítima mortal do H1N1 não morreu da infecção por H1N1. É de mim, ou há nesta notícia uma certa bipolaridade...? Ou será que o vírus H1N1 já ascendeu à condição de bactéria?
Esta notícia irritou-me. Não sei porquê, mas fiquei mesmo irritada. A comunicação social tem como papel informar a sociedade, não "desinformá-la", que é o que parece que estão a fazer.
A história da "primeira vítima mortal do vírus H1N1": emigrante em França, transplantado renal há 14 anos, começa a fazer rejeição do orgão. Desenvolve uma infecção abdominal grave, que degenera em pneumonia. É internado na UCI do hospital de S. João do Porto, onde estão internados doentes com gripe A; o que acontece? Apanha gripe A. Passados uns dias, acaba por morrer. De quê? De gripe A. E a tal infecção abdominal grave que o levou à UCI? Não tem nenhum papel? Não, o mau da fita é o H1N1. Vamos todos encharcar-nos de Tamiflu e imunizar-nos com vacinas feitas "à pressão" para que o mauzão do vírus H1N1 não nos faça mal.
Vem a ministra da Saúde fazer o anúncio da primeira morte causada pelo vírus H1N1; logo a seguir há uma conferência de imprensa no S. João, onde a responsável pela UCI desmente que a causa da morte tenha sido a infecção pelo H1N1, tendo sido a infecção bacteriana generalizada (septicémia) a responsável pela falência dos orgãos do paciente.
Até aqui tudo bem, é necessário fazer autópsia para saber em concreto a causa da morte de uma pessoa, e quando a ministra fez o anúncio ainda não estaria na posse de todas as informações (digo eu...). Mas a partir do momento em que a responsável da UCI do S. João vem a público esclarecer quais as causas da morte, porque é que esta notícia continua a ser dada sob o cabeçalho "Gripe A"? Por acaso a televisão tinha o som baixo, mas se calhar a notícia foi mesmo dada como uma amiga minha sugeriu: "imagino que foi dito bem alto: "A 1A VITIMA MORTAL DO VIRUS DA GRIPE A MORREU ... (e depois num tom mais baixinho) de infecção bacteriana generalizada"...". Já está claro que não foi o vírus H1N1 que matou o senhor, por favor tirem aquele cabeçalho quando falam neste caso. O senhor morreu de uma septicémia, coisa que acontece a milhares de pessoas no Mundo. Não alarmem as pessoas. Chamem as coisas pelos nomes.
Vírus e bactérias não são a mesma coisa, embora a maneira como as notícias estão a ser dadas assim dê a entender. Infecção bacteriana generalizada provocada por um vírus? Qualquer dia vêm dizer que os antibióticos é que são bons para matar o H1N1, qual Tamiflu qual carapuça. E com jeitinho basta encher uma malga com água e um punhado de sal, deixar à cabeceira da cama durante 3 dias e depois deitar essa água pela cabeça abaixo, repetindo três vezes "viruzinho, viruzinho, vai para aquele vizinho!" para ficarmos imunes a todas as maleitas. Claro que pode dar-se o caso de o H1N1 ter-se "travestido" para bactéria, porque a vida dos vírus é uma seca, as bactérias são muito mais fixes, pelo menos são mais complexas e têm metabolismo e não precisam de outras células para se reproduzirem, enquanto que os vírus não passam de uns pedaços de RNA ou DNA com uma cobertura sem graça. Aí sim, acredito que o vírus H1N1 "travestido" para bactéria tenha causado a tal "infecção bacteriana generalizada".

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