terça-feira, maio 19, 2009

"Onde estás, meu menino?"


Falando em gavetas, este já é bem velho e está escrito num caderno, guardado dentro de uma caixa de cartão, que por sua vez está dentro de, claro está, uma gaveta! É daquelas coisas que se devem guardar porque ainda nos conseguem fazer sorrir, embora no passado nos tenham feito chorar. Coisa complicada, a adolescência...

"Onde estás, meu menino, homem da minha vida? Procuro-te e não te encontro. O corpo que antes habitavas está ocupado por outra pessoa. Quem é vivo sempre aparece... Mas tu não apareces...
Eu não quero acreditar que morreste, mas acho que é o que, de facto, aconteceu. Tenho saudades de ti, homem da minha vida, que desapareceste, que te tornaste névoa, poeira, pó, algo ido, talvez sonho.
Tenho saudades de te ver na janela; aquele que habita o teu corpo nem sequer lá vai... Tenho saudades de te sentir nos meus braços, de te beijar, de ser beijada por ti...
Mas quem morre não volta... e tu morreste. Porquê? Porquê?... Lembro-me dos teus olhos escuros, do teu sorriso terno, de tudo o que nunca mais vai voltar.
Só gostava de poder ter-me despedido de ti, dar-te um beijo sabendo que era o último, olhar-te sabendo que nunca mais o poderia fazer de novo...
Porque é que morreste, homem da minha vida? Porque é que te mataram, porque é que te levaram?
Olho para trás e vejo a nossa história, tão linda, tão feliz, tão pura... e num momento, num relâmpago, tudo fugiu. E olhei para ti. Mas já não te vi, estavas morto.
Ainda hoje, que já encontrei outra pessoa com que poderia construir outra história, olho para a tua fotografia e sinto que o meu amor por ti ainda não morreu, e que o teu amor por mim ainda existe, muito fraco, tentando viver debaixo de tanta infelicidade, sofrimento e desilusão.
Morreste... Mas eu não quero acreditar... Porque as pessoas que eu amo não morrem nunca..." (algures entre Fevereiro e Março de 1995)

Algumas ressalvas:

- ninguém morreu mesmo, é a minha veia metafórica a falar; isto não é defeito, é mesmo feitio.
- tinha 17 anos quando escrevi este texto.
- para mim o amor era sempre acompanhado de sofrimento; o Bocage, ao pé de mim, escrevia comédias.
- fui uma verdadeira adolescente, com crises existenciais e períodos de apatia, em que ficava deitada na cama a olhar para o tecto e a imaginar cenas dramáticas.
- sei que o rapaz de quem este texto fala nunca gostou de mim, pelo menos não da maneira que eu queria que ele gostasse, mas sempre quis acreditar que sim.
- sei que amei de paixão esse rapaz, mas hoje não tenho tanta certeza que ele é o homem da minha vida.
- apesar de todo o sofrimento por que possa ter passado, não me arrependo de nada do que vivi porque me senti viva!

P.S. - Ah, e na capa desse caderno tenho os nossos nomes escritos por ele. Vale a pena guardar estas coisas!
P.S.2- E também tenho as minhas notas de 11º ano! Matemática e Filosofia eram as minhas piores notas. Já não me lembrava disto.

1 comentário:

pisco disse...

Olha...olha. A deambular pelo passado? Fazes bem! Em relação ao outro texto das gavetas, acho que nenhuma deve ser deitada fora. Todas devem ser reabertas pois assim tens noção de quais deixaste entre-abertas e compreender se não serão essa que te estão a impedir que feches todas as outras.