sábado, abril 29, 2006

Introspecção

Uma pessoa tem que se conformar. Às vezes é difícil, principalmente se uma pessoa não é conformista, como é o meu caso. Mas como já referi noutro post, é preciso saber parar. Parar, pensar e ver se vale a pena continuar. Parei, pensei e vi: não vale a pena continuar.
Isto leva-me a pensar que nem sempre se consegue aquilo por que se luta. Então de que vale lutar? Talvez para que, quando olharmos para trás, sem termos conseguido aquilo pelo qual tanto lutámos, possamos suspirar e dizer " fiz o que podia, ao menos isso". E a nossa consciência fica tranquila, e podemos dormir bem à noite, embora o objecto da nossa luta possa vir assaltar-nos os sonhos e pôr tudo em polvorosa. O que vale é que acordamos e está tudo no mesmo sítio, os estragos foram temporários e apenas no sonho.
Continuo a dizer que os humanos são bichos muito complicados, há regras e convenções para tudo, há medos e inseguranças em procurar coisas que são quase instintivas. Mas temos que ter cuidado para não ferir susceptibilidades, olha o socialmente correcto, olha o que as pessoas vão pensar... Antes estava-me borrifando para isso, para o que as pessoas pensavam. Mas tinha 14 anos, era o que se chama uma "teenager inconsciente"; mas conseguia quase sempre aquilo por que lutava. Algures entre essa época e o presente perdeu-se qualquer coisa, talvez a ingenuidade própria da adolescência, que não convém estar presente na idade adulta porque corremos o risco de passarmos de ingénuos a estúpidos.
Às vezes apetece-me fingir que tenho 14 anos e borrifar-me para as convenções e ser criança - porque é mais fácil para uma criança dizer o que sente porque para as crianças não há convenções nem susceptibilidades para ferir. Se calhar devíamos agir mais como as crianças, pelo menos no que toca a expressar sentimentos; nem quero imaginar nas oportunidades que se perdem por medo de mostrar o que se sente. Faz-me lembrar um daqueles mails-maravilha que andou a circular por aí há uns tempos, era sobre guardarmos determinadas palavras e objectos para ocasiões especiais que podem nunca acontecer. Não sei se o reenviei mas fiquei a pensar nele. E realmente devemos dizer aquilo que sentimos quando o estamos a sentir, não devemos esperar pela ocasião A ou B, porque não sabemos se essas ocasiões vão acontecer. E é aqui que entra a criança que há em nós; para as crianças não há ocasiões especiais, as crianças pura e simplesmente dizem o que lhes dá na bolha quando bem lhes apetece. E era assim que os adultos deviam ser, em determinadas situações. Talvez fôssemos mais sinceros uns com os outros e não digo que o Mundo inteiro seria melhor, mas talvez alguns mundos mais pequenos fossem mais felizes.

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