segunda-feira, abril 25, 2005

Viver não dói


"Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas
que foram sonhadas e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por
termos conhecido uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.
Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado
e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor e não
conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de
ter tido junto e não tivemos, por todos os shows
e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e
paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos
de ter para ir ao cinema, para conversar
com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente
conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos
estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro
está sendo confiscado de nós, impedindo
assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos
e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o
desperdício da vida está no amor que não damos,
nas forças que não usamos, na
prudência egoísta que nada arrisca, e que,
esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional."

Carlos Drummond de Andrade

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